Músicos com carreira consagrada ao lado de artistas da MPB e do jazz tocam agora, por exemplo, ao lado de duplas sertanejas
Representante da nata do instrumental mineiro, depois de tocar com
Marco Antônio Araújo e Milton Nascimento, entre outros, Ivan Corrêa, de
56 anos, acabou se tornando músico acompanhante e diretor musical da
dupla sertaneja Victor & Leo. Ele lidera o time de artistas que,
rompendo com velado preconceito do meio musical, por questões de
mercado, acabou abraçando cada vez mais estilos, independentemente do
que escolheu para a carreira solo. Depois do grupo Sagrado Coração da
Terra, de Marcus Viana, o baixista também integrou o Edição Brasileira,
com o qual gravou, em 1999, o disco instrumental Lua.
“A mudança para mim foi bem natural. A estética sertaneja da época
era calcada no rhythm & blues e folk-country americanos. Era só
questão da letra e do dueto. Se tirasse a voz, era uma estética bem
universal de banda, com um pé até no rock”, avalia Ivan, que, ao ser
convidado para substituir o baixista de Victor & Leo, em 1997,
durante show em Mirabela, Norte de Minas, acabaria convocado para
dirigir a banda da dupla mineira. A exemplo de Ivan, o
multi-instrumentista.
Rogério Delayon também tocou com Victor & Leo. Mas acabou não
aguentando o “rojão do mercado sertanejo”. “Você é bem remunerado,
trabalha muito, mas tem de abrir mão de muita coisa”, justifica o
músico.
Inclusive musical? “Sim”, responde Delayon, admitindo que, como
músico free lancer, às vezes toca um estilo que ele sequer escuta em
casa. Para o músico, se o artista é bom e faz música boa – qualidades
que ele atribui a Victor & Leo – não importa o gênero ou estilo. “O
que vale mesmo é a verdade do artista”, afirma Rogério Delayon,
dizendo-se livre do preconceito. Antes de trabalhar com a dupla
sertaneja, entre 2009 e 2010, ele tocou com Zeca Baleiro, com o qual fez
a turnê do disco Líricas por dois anos.
ECLETISMO: Time tão privilegiado quanto esse também faz parte da
trajetória de Ivan Corrêa, que, antes de chegar à dupla Victor &
Leo, tocou nas bandas de Marco Antônio Araújo e Marcos Vianna, além das
de Milton Nascimento e Lô Borges. Paralelamente, o baixista gravou com
Flávio Venturini, Toninho Horta, Marku Ribas e Vander Lee. “Sempre fui
muito eclético, tanto como instrumentista quanto como solista”, avalia o
baixista.
“Já tinha gravado sertanejo e caipira de raiz com Pena Branca &
Xavantinho e também feito substituição na banda da dupla João Mineiro
& Marciano”, recorda Ivan Corrêa. De 1997 a 2000, ele tocou
regularmente com Victor & Leo, que, ao mudar para São Paulo,
aguardava a hora de levar o baixista para aquela cidade. “Por sete anos
eles me ligavam dizendo que estavam batalhando para me buscar”, relata,
salientando que em 2007, com o sucesso nacional, a dupla veio realmente a
Belo Horizonte para recrutá-lo para a banda.
Um mês depois, Ivan coproduziu o primeiro DVD de Victor & Leo –
Ao vivo em Uberlândia – seguido da produção de seis CDs – inclusive o
feito para o mercado espanhol, que ele também co-produziu, e Borboletas,
de 2008, o que mais vendeu. Hoje, segundo Ivan Corrêa, a agenda do
segmento sertanejo é muito pesada. “Já na sexta temporada com a dupla,
faço mais de 200 shows por ano com eles”, contabiliza o baixista, que
acaba de viajar com Victor & Leo para o Circuito São João do
Nordeste, no qual farão 12 shows. “A vida da gente é esta: uma média de
18 shows/mês”, relata Ivan Corrêa, que costuma dizer que foi “abduzido”
pela dupla.
“Você fica completamente absorvido. Quando não está fazendo shows,
está em estúdio produzindo ou finalizando algo. Hoje, vivo muito mais na
estrada, dentro da mala”, relata. “Você percebe o preconceito do meio,
se isenta e faz o trabalho da melhor maneira possível”, garante Ivan
Corrêa, que diz ter sonhado muito em ser um instrumentista free lancer,
um sideman. “Preparei-me muito para isso, pesquisei estilos, sonhei com a
estabilidade. Mas para isso foi preciso tocar com todos eles.” Cerca de
20 anos mais velho que Victor & Leo, Ivan admite que a própria
relação de amizade entre eles tem algo de paternal.
Musicalmente, diz o baixista, por três anos Victor foi o maior
arrecadador do Escritório de Arrecadação de Direitos (Ecad). “Ele é fiel
ao que realmente cria. Não vai atrás de mercado. Como músico, o que
mais prezo é a verdade artística que Victor & Leo têm”, conclui.
Fonte:4 Energias
Imagem: Flick Heloisa Falak Fotografia
0 comentários:
Postar um comentário